segunda-feira, 20 de junho de 2016

E SE O DINHEIRO PERDER O VALOR?




Quem trabalha com Previdência Complementar tem uma dúvida recorrente: como é que eu explico que meu produto/serviço é bom para a felicidade futura do meu cliente?

Não é satisfação imediata? Objetivamente, não! Subjetivamente, pode ser - quando o cliente entende que ele está criando condições para um futuro melhor. Isso é superação. Quando o cliente entende que ele está mudando uma cultura atávica. Quando o cliente entende que disciplina é liberdade. Quando o cliente está consciente sobre o valor de sua escolha.

Escolher e sustentar a decisão não é simples, especialmente em um mundo tão condicionado pelos apelos de consumo, de padrão de vida, do ter, da aparência. Escolher e sustentar uma decisão previdenciária é muito mais complexo. Porque, objetivamente, trata-se de algo que ainda não há. No livro Felicidade ou Morte, os professores Clóvis de Barros Filho e Leandro Karnal refletem sobre esse processo.

"[...] sabemos o quanto é difícil fazer escolhas. Elas são um cobertor curto. Sempre. E só não enxerga o cobertor curto quem foi vítima de algum tipo de inculcação dogmática que o convenceu da existência de um único gabarito para a vida. Cobertor curto porque, se tivermos lucidez, perceberemos que toda decisão desatenderá ao mesmo tempo que atende. E quanto maior a lucidez, maior a certeza de que toda decisão implica caminhos que desatendem, que maculam, agridem, que podem ter valor negativo. Toda decisão. Se houvesse a boa e a má decisão por definição, certamente acertaríamos mais. Tudo seria mais fácil, bastaria realmente identificar o certo".

A essa reflexão acrescento: toda decisão é presente. Isso é concreto. O passado é história. O futuro é ficção e servem somente como referências e não como diretrizes para a felicidade. Se no século 20 dinheiro era o principal fator que proporcionava felicidade, no século 21 é o bom humor e risadas. É bem interessante observar no quadro o estudo da Universidade de Bolton.

Evidente que dinheiro continua sendo importante. Mas há uma mudança! No século 20, por exemplo, bastava construir uma carreira e exercê-la até conquistar dinheiro. Hoje, é preciso conciliar REALIZAÇÃO profissional e pessoal na construção da carreira. O objetivo primeiro é aumentar a produtividade, evidentemente. Mas há que se conquistar dinheiro também. E mais do que isso: quem se realiza com o que faz não tem projetos de aposentadoria, interromper a carreira. Os exemplos mais fáceis para ilustrar essa reflexão são atores e músicos: Clint Eastwood, Fernanda Montenegro, Mick Jagger e tantos outros que já ultrapassaram os 70 anos em atividade. Há exemplos menos evidentes de pessoas públicas em outras áreas de atuação:  a rainha Elizabeth, Warren Buffetto criador de super-heróis Marvel Stan Lee. Todos em ação. Será que prioritariamente pelo dinheiro? 

Hoje, vi com certa surpresa que Bill Gates está investindo recursos financeiros da ordem de US$ 42 milhões em um projeto inovador na área de saneamento básico para países subdesenvolvidos (clique aqui). Excêntrico? Nenhum deles pensa em se aposentar. Mas todos constituíram uma base financeira que permite esse tipo de "excentricidade" que também pode ser um fator muito determinante da tal da "felicidade" que todos nós buscamos.

Hoje eu acordei tão bem, tão bem, tão bem

A felicidade é construída. Não dá para comprar! Ah, que subversão! Dinheiro não compra felicidade. Dinheiro compra coisas. Dinheiro é para usar e ter (status, conhecimento, estrutura). Quanto mais complexa for a vida, mais demandará dinheiro para suprir expectativas. Felicidade é outra história. Felicidade é para ser (bem humorado, livre, independente). O dinheiro entra para suprir necessidades que, para quem é feliz, em geral, são mais simples. 

Vamos fazer ficção para ressignificar o que é construir um futuro melhor e, quem sabe, mais feliz? O professor Sílvio Meira usa uma metáfora maravilhosa para falar sobre essa construção:


Então, na verdade, o futuro vem do futuro. São escadarias abstratas que se desenham de lá pra cá, do futuro para o presente, das muitas coisas que quero –ou acho que quero, ou talvez nem queira- fazer. Aí, a cada degrau, dou um salto arriscado para uma escada que não existe, e na primeira pessoa do (futuro do) presente, “eu salto”. Futuro do presente porque, no caso de certos verbos, como diria Chico Science… “um passo à frente e você já não está no mesmo lugar”.Esta (uma, cada) escada existirá se eu convencer gente em quantidade suficiente a saltar prá lá. Ou se eu, sozinho, tiver energia, tempo, foco, determinação… para criar aquela nova escada sozinho, o que é sempre muito difícil. A verdade é que, a cada momento do presente, temos múltiplas visões e versões de futuros possíveis e assumimos riscos. 
No futuro, o dinheiro pode perder a importância. No futuro, a juventude eterna pode ser uma conquista real. No futuro, o tempo pode ter outro valor. As realizações serão individuais ou coletivas? O que fará mais sentido? Enquanto estamos em transição, encontrar respostas pode ser um exercício de busca da felicidade. Pode ser um exercício de evolução da espécie. Para encerrar esse post, vou colocar um trecho de um filme que - por acaso - vi neste final de semana, mas está disponível no YouTube para quem quiser continuar nessa viagem de correr riscos e saltar no escuro.

 




Nenhum comentário:

Postar um comentário