sexta-feira, 27 de abril de 2012

SÓCRATES VAI AO SHOPPING

Um dos textos mais incríveis sobre consumismo, imediatismo, comportamento humano foi escrito por Frei Beto e se chama Passeio Socrático. Por uma questão de respeito aos direitos autorais, não é possível reproduzir aqui as brilhantes ideias do autor. Entretanto, uma das boas coisas do mundo atualmente é que algumas preciosidades estão ao alcance de simples cliques. Portanto,quem quiser ler Frei Beto na íntegra, clique aqui.

Com muita sabedoria, ele nos ensina que o filósofo Sócrates, mais de três séculos antes de Cristo, percorria os centros comerciais de Atenas interessado em descobrir coisas das quais ele não precisava para ser feliz!

Isso quer dizer que o consumismo é uma questão muito mais antiga do que se costuma imaginar. Talvez tenha ganhado tamanha proporção porque a população do planeta ultrapassou a marca dos sete bilhões. Entretanto, a questão ainda é a mesma: o homem, inutilmente, tenta substituir o intangível (sentimento/felicidade) pelo tangível (matéria/compra no shopping). 

É incoerente! A equação não fecha, cara pálida! Daí você torra o seu esforço de Hércules - por ter acordado cedo, passado aperto no ônibus, trem, metrô, gastado horas no congestionamento, se envenenado com junk food - no primeiro shopping, boteco, sei lá qual escolha impensada e muitas vezes simultânea que você faz, tudo para aliviar o vazio do peito? 

Faça as contas! Quantos ombros você tem mesmo para carregar bolsa? Pulsos para colocar relógio? Corpos para vestidos ou jeans? Orelhas para ouvir o celular? Você está querendo impressionar alguém? Quem? O espelho, Narciso? É pelo que você tem ou é? Tudo bem! Se fica mais confortável reconduzir a conversa, eu tento por outra abordagem.

Quem é escravo de quem?

Decidi escrever este texto porque ontem, quando fui conferir as mensagens no Facebook, chamou minha atenção as vááááááááááárias imagens de agradecimento a Deus, ao Universo por sexta-feira ter chegado! Você também viu? Então, se o shopping é tão importante, o trabalho não deveria ser uma bênção? Afinal, o salário é o passaporte desse passeio nada socrático, certo? Questão de coerência!

Costumava achar, porque aprendi assim, que o homem era escravo do tempo. Depois que inventaram o relógio, o tempo passou a ser o grande tirano da humanidade. O controle do tempo foi transferido para o mercado, o trabalho, o patrão. O homem que, historicamente, havia se libertado de outros homens, aceitou a submissão a uma máquina.

Mas hoje, vejo que o relógio - uma das muitas máquinas consumidas compulsivamente pelo homem - deixou de ser seu tirano.  Foi substituído pelo shopping. Homens e mulheres de todas as gerações se rendem a esse novo modo de existir, confirmando uma herança atávica: o ser humano como vítima das próprias compulsões. Foi assim que perdemos o acesso ao Paraíso. Fomos sempre inábeis para reconhecer e nos render à felicidade... Mentira! Há quem reconhece como legítima a mensagem que diz que a felicidade foi engarrafada pela Coca-cola. E, mesmo diante de contas estouradas, cheque especial no limite, fatura mínima do cartão de crédito, abre e sorve a felicidade em grandes goles de pura refrescância! E a felicidade agora também em versão retornável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário