quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"INFÂNCIA DIGITAL: É MAIS DIVERTIDO TIRAR SARRO DO QUE FALAR BEM"


Comunicar é um exercício contínuo de superação e amadurecimento. Prodígios e gênios existem, mas são raros. Todo o resto é vocação e, principalmente, construção, muito engenho - como dizia Aristóteles - e arte, quando se está com sorte. Por isso, admiro tanto quem consegue sintetizar uma experiência de vida inteira, de observação e crítica árdua em uma entrevista, um bate papo. Gil Giardelli, professor da ESMP e da FEA/USP, é especialista nisso! Muita precisão, muita concisão na forma de retratar comportamentos, hábitos, motivações das pessoas nas redes sociais.

Na entrevista O Brasil vive uma grande infância digital (clique aqui) o professor - que vai representar o Brasil no Careers Beyond Borders, em Manchester - Reino Unido, explica que existe aqui - em razão de um processo educativo deficiente - existe um descompasso entre o que a sociedade deseja e o que ela efetivamente incorpora. Isso se reflete no uso das mídias sociais.


E aí, aquele lugar que deveria ser uma conversa entre a empresa e a pessoa – não o consumidor -, virou um ringue de MMA (Mixed Martial Arts, ou Artes Marciais Mistas, na tradução literal), pois se xinga e ofende muito. Somos um dos poucos países que ainda está nessa infância perdida. (Gil Giardelli)
É a diferença entre crítico e detrator. As pessoas se propõem a criticar, a criar polêmica, exigir uma situação melhor, o que é totalmente lícito. Mas, diante de grupos influenciáveis, permeáveis à uma crítica fácil que mais acomoda do que transforma, pecam pelo excesso e se transformam em detratores.


O lance é que existe uma coisa aqui do Brasil muito diferenciada. Com todo o respeito, temos que falar de sutilezas da vida, claro, mas só temos um assunto? As mídias sociais parecem um depósito de besteiras. Por exemplo, só se fala, discute e ofende devido ao futebol, e o fato é que ninguém briga ou discute por sermos o 85º em educação, ou por termos perdido cinco posições no ranking de inovação, chegando ao 58º… Mas somos o primeiro a falar da Libertadores. A discussão não é falar de futebol, mas sim a mentalidade e consistência da discussão. Parece que não existe tempo para falar de coisas que nos atingem mais que a bola. (Gil Giardelli)

É a diferença entre conteúdo e retórica. É a diferença entre interação, diálogo e coerção. Entre ter acesso à tecnologia (instrumento) e ter acesso à educação, à cultura (conhecimento). Desenvolvemos a ferramenta, agora precisamos criar a roda.
O que está acontecendo: o consumo está crescendo, mas não vemos o consumo de educação. Falta um processo de investimento em educação, que refletirá na internet e, consequentemente, no relacionamento online. (Gil Giardelli)
Impossível deixar de lembrar do filósofo da linguagem austríaco, Ludwig Wittgenstein, que afirmava: "Os limites da minha linguagem são os limites do meu universo". Impossível deixar de lembrar o título do recém-lançado livro de Gil Giardelli: "Você é o que você compartilha".

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