segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

OSCAR: AS MUDANÇAS DO MUNDO NO PLANETA-PALCO

Quem ganhou o que, na verdade, pouco importa para esta minha leitura deste evento. Quero escrever aqui sobre a visão de longo prazo e da ousadia do diretor  no filme Boy Hood - da infância à juventude. 

Ele criou a proposta e iniciou a implantação do projeto de gravação há 12 anos. Convenceu os atores a acreditarem no filme. Assim como o elenco, correu um altíssimo risco com a descontinuidade do trabalho. Atores crescem, engordam, mudam de profissão, morrem. Afinal, tudo pode acontecer em 12 anos. Quem quiser entender um pouco do enredo, o trailler mostra como a história se desenrola.

Foco é a chave do tamanho

Já que o mundo corporativo AINDA tem preconceito à palavra , vou usar aqui a palavra FOCO. Richard Linklater e o elenco do filme demonstraram muito foco e compromisso com o que se dispuseram a fazer. E foram contra a corrente, porque nada mais imediatista do que Hollywood. Boy Hood permanece fiel ao seu propósito de mostrar as transformações do tempo.




Neste fim de semana, um artigo sobre o novo livro da professora norte-americana Camille Paglia descreve a importância do foco, em um mundo em que os incontáveis estímulos desencadeiam uma certa apatia social.
"Como sobreviver nesta era da vertigem?  Precisamos reaprender a ver. Em meio à tamanha e neurótica poluição visual, é essencial encontrar o foco, a base da estabilidade, da identidade e da direção na vida. As crianças, sobretudo, merecem ser salvas deste turbilhão de imagens tremeluzentes que as vicia em distrações sedutoras e fazem a realidade social, com seus deveres e preocupações éticas, parecer estúpida e fútil. A única maneira de ensinar o foco é oferecer aos olhos oportunidades de percepção estável – e o melhor caminho para isso é a contemplação da arte". Para ler mais clique aqui.
A angústia de Camille Paglia é com a falta de foco influenciando a falta de protagonismo das PESSOAS. Sem protagonismo, sem opinião própria, sem massa crítica, de fácil manipulação. Esse é o processo que está na base dessa história toda que estou tentando resumir aqui. Consumo imediato, sem crítica e em escala - seja de bens materiais ou bens simbólicos - é insustentável no longo prazo.

Protagonismo com P maiúsculo

Consegui ter a sorte de assistir a um pequeno trecho de toda a cerimônia: justamente a premiação de Patrícia Arquette, melhor atriz coadjuvante, que está no elenco de Boy Hood. Ela poderia ter sido uma "boa moça" e - simplesmente - agradecido polidamente à lista gigantesca de PESSOAS envolvidas com o trabalho que ela faz em Hollywood.

Para minha surpresa, Patrícia Arquette encerrou os agradecimentos pela premiação com uma mensagem altamente política e alheia aos protocolos acadêmicos. Diante dos olhos planetários, deixou o individualismo de lado para levantar uma bandeira social: equiparação salarial entre homens e mulheres. 

Pela capacidade de influência, pela visibilidade global , pela eloquência da mensagem, esse gesto simples - para olhos focados - pode ter sido um sinal de uma grande transformação social que está em gestação, como explicava o filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin. A expressão registra o que ainda não há, mas haverá, em algum momento e lugar do futuro.




Os resultados de Comunicação e Educação são de longo prazo. São uma construção permanente. São sustentáveis na medida em que sensibilizam corações e mentes e criam novos comportamentos que, claro, serão compartilhados e multiplicados, expressos como novas tendências sociais. 

Não dá para ser amador, não dá para ser simplista, não dá para ser superficial. Patrícia Arquette não protagonizou o recado por esporte, por ingenuidade, por inexperiênca. Ela sabia o que estava fazendo e onde quer chegar. Caberá a nós, os receptores da mensagem, internalizar e passar a querer e legitimar - nas infinitas oportunidades da vida - os mesmos direitos que estão sendo reivindicados nos países desenvolvidos. É desenvolvimento econômico e social que estão nos bastidores de toda essa história que eu contei aqui. Se a gente quer, tem que encontrar foco e ir buscar.

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