terça-feira, 10 de novembro de 2015

REPOSICIONAMENTO A FAVOR DE EXPECTATIVAS REALISTAS

Na semana passada, trabalhei pela TV ABRAPP no Seminário O Desafio da Gestão dos Investimentos dos Fundos de Pensão. O evento teve uma programação muito focada na interpretação da conjuntura econômica e mostrou com muita clareza algumas demandas que todos conhecem:
  • o Brasil precisa poupar mais e melhor: o tema está desenvolvido no estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas [1], para a ABRAPP. Trata-se de um diagnóstico sobre o trabalho estrutural que precisa ser feito - Legislação, Comunicação, Marketing, Educação - para incluir os trabalhadores das pequenas e médias empresas na cobertura da Previdência Complementar. O potencial é de 3,7 milhões de novos entrantes.
  • gestão de investimento não é milagre: a estimativa é que somente 1% dos fundos de pensão consiga atingir a meta atuarial em 2015. Juros altos podem não significar superávit em cenário de inflação de dois dígitos. Esse quadro deve perdurar até 2017, porque a recuperação econômica depende do reposicionamento da política nacional. 
  • gestão do passivo impacta nas metas: em tempos de superávit, equilibrar as demandas do passivo - sem repasse para participantes e patrocinadores - era uma rotina com fórmula inclusive prevista pela legislação que, praticamente, automatizava esse processo. O conforto, entretanto, sempre teve custo.
    A mudança da economia, que dificulta resultados dos investimentos, evidencia cada vez mais esse custo e vai exigir mais agressividade para formar um patrimônio compatível com a longevidade de assistidos e, claro, dos benefícios previdenciários. Ou, como acontece em países de economia desenvolvida, a decisão da aposentadoria será cada vez mais adiada e o tempo de contribuição estendido.
    Saber mais sobre esse tema ajuda a lidar com os questionamentos legítimos que certamente acontecerão para 99% das EFPC na divulgação de seus resultados em 2015. É por essa razão, que compartilho aqui as orientações de Sílvio Renato Rangel sobre esse posicionamento mais realista em relação à gestão previdenciária.

  • Economia comportamental para a tomada de decisões da alta gestão: o longo prazo exige tempo para que os resultados se revelem. Entretanto, o cumprimento de meta é sempre avaliado anualmente. Lidar com a pressão do resultado no curto prazo e a prudência dos resultados sustentáveis e de longo prazo é complexo. É aí que surgem as ferramentas da Economia Comportamental como instrumento para apoiar a alta gestão na avaliação de impactos - imediatos e de longo prazo -  das decisões institucionais. A explicação é de Édner Bitencourt Castilho

Penso que todos esses estudos possam ser úteis na formulação do Relatório Anual de Informação (RAI), nas prestações de contas a Patrocinadores, na gestão de eventual crise de imagem institucional, na atualização dos argumentos utilizados em scripts dos serviços de atendimento ao Participante, nos posts institucionais das redes sociais, nas ações de Educação Previdenciária, nos jornais, revistas e informativos que serão produzidos até março de 2016.

A batalha que se trava em 2015 é maior, porque a conjuntura econômica está consumindo um tempo precioso, porque o mercado de trabalho está encolhendo drasticamente, porque a Educação Previdenciária que chega à sociedade não é suficiente para despertar uma consciência mais realista sobre a importância de poupar para o futuro. Ao contrário! O movimento que se fez nos últimos anos foi de um condicionamento a favor de um consumo predatório cujos impactos vão muito além do endividamento das famílias.

Não é simples protagonizar nestes momentos de mudança estrutural. Mas talvez esse seja o melhor momento para se reconduzir com mais lucidez tudo o que se diz e pensa sobre Previdência Complementar no Brasil.

Para encerrar este post, eu escolhi um vídeo de outro evento - o 36º Congresso Nacional de Previdência Complementar. Para mim, este vídeo é um épico porque, em poucos minutos, Nilton Molina conta dois séculos de história previdenciária e - principalmente - faz uma leitura comportamental da sociedade nas últimas décadas.  



[1] PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR E POUPANÇA DOMÉSTICA: DESAFIOS GÊMEOS NO BRASIL, estudo técnico realizado por José Rodrigues Afonso - economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas.

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