sexta-feira, 22 de julho de 2016

UM BICHO QUE SÓ TEM PESCOÇO

Notei, hoje, que a história de reforma da Previdência Social está acelerando o envelhecimento em mim. Então, para passar o tempo de um jeito mais divertido, vou escrever aqui sobre um assunto que eu gosto, mas sem fanatismo: telenovela. 

Afinal, o que se pode pensar sobre novas regras para aposentadoria pelo INSS é apenas aproximação e especulação daquilo que poderá ser aprovado no futuro que, imagina-se, deva estar próximo.

Quem gosta de novela como eu deve estar também impressionado como eu com o notável trabalho da atriz Selma Egrei atuando como a personagem CENTENÁRIA Encarnação

Se, antes dela, houve outro personagem de novela que tenha ultrapassado a barreira dos três dígitos de idade, eu não sei... o Google, pelo jeito, também não. Eu pesquisei sem sucesso resposta para minha dúvida. O que eu sei é que esses personagens serão cada vez mais comuns na ficção e na realidade. Não é achismo. É Estatística. É Demografia.

Tem outro indicador das evidências estatísticas e demográficas. As empresas estão incluindo os idosos como protagonistas na venda de serviços. Para mim, a campanha mais recente e bacana que está no ar é, sem dúvida, do Itaú. Lembra da Palmirinha encenando suas limitações com tecnologia? Pois a abordagem evoluiu e agora ganhou outra dimensão com as personagens Lilia e Neusa. Elas são "muito antenadas", se divertem e tiram proveito da tecnologia. Elas tiram proveito da troca intergeracional. Na segunda fase da campanha elas passam a atuar com influenciadores como Pathy dos Reis.



Para mim, a campanha que está no ar é a materialização de alguns dados sobre otimismo entre idosos, apurados pela pesquisa global O Futuro da Aposentadoria, realizada pelo HSBC. Trata-se de um estudo realizado em diferentes países, a cada dois anos. Há pelo menos quatro anos, essa investigação apontava para as redes sociais, a inclusão digital como fator de otimismo em relação à passagem do tempo. A tecnologia, pelo menos para quem tem acesso, ajuda a aliviar a passagem do tempo. 

No caso do Itaú, a tecnologia ajuda na socialização. A amizade une as personagens. A tecnologia expande as relações (em um dos episódios, elas convidam por Whatsapp as amigas para um chá enquanto baixam e "vendem" o app do banco). No episódio que eu selecionei, elas estão aprendendo a usar o Snapchat. Sem sofrer!



Umberto Eco ficou famoso pela recepção popular da ficção O nome da Rosa. Neste livro, há um embate entre a austeridade e o riso. Mas eu gosto de outro livro de Eco, um mais teórico na área da Comunicação e das Relações Sociais. Trata-se de Apocalípticos e Integrados, no qual o mestre - no século 20, bem antes das redes sociais existirem - dedica-se a estudar a recepção e o uso das tecnologias pela sociedade.

Pois para mim, as ideias dos livros, a personagem de novela e as personagens da campanha publicitária são autorreferenciais! Encarnação é austera, analógica e apocalíptica, mas está no comando do seu tempo. Aliás, na caracterização do espaço e da história da saga da família, uma enorme Ouroboros sempre é mostrada predizendo e apontando para a eternidade. A cobra que morde a própria cauda. Encarnação tem o tempo de meses para mostrar a história de gerações.

Lilia e Neusa são divertidas, digitais e integradas. Estão também no comando de seus tempos. Se elas não têm medo do tempo, aprenderam a lidar com ele também.  Lilia e Neusa estão às voltas com aplicativos, smartphones e seus 30 segundos de tempo para vender um serviço bancário.

Outro aspecto interessante de se notar: as personagens são mulheres. As mulheres são mais longevas! De novo, as Estatísticas e a Demografia atestam.Óbvio que há muitos exemplos de homens que ultrapassam as barreiras do tempo com muita atividade, humor, decisão. Sílvio Santos é um deles (só prá ficar no Brasil)!

Não dá para generalizar!

Infelizmente, ainda não dá para generalizar. O tempo é uma experiência individual. Cada um tem a sua. O que dá para fazer é atualizar a imagem do ideal. E aí, há estudiosos de todas as áreas contribuindo para que o futuro e o idoso tenham um apelo melhor do que já tiveram no passado: mais longevo, mais saudável, mais sustentável, mais feliz.

Eu vou encerrar este post com dois vídeos do escritor moçambicano Mia Couto. No primeiro, muito curto, ele fala da própria experiência com o tempo.




Neste segundo, ele amplia o olhar e passa a ver o tempo em uma perspectiva relacional passado/futuro, as relações com os que já se foram, as relações com os que estão aqui.




Mais do que o medo do futuro, mais do que o regramento das leis e seus adiamentos, penso que é essa reflexão sobre a vida que definitivamente influencia muitas decisões, inclusive as decisões de aposentadoria.

São as relações que se conhece que estabelecem as decisões sobre o desconhecido (tempo, futuro, leis, cálculos). O melhor é quando há equilíbrio. Mas quando a vida não pode contar com luxos racionais, tecnológicos, ela acontece pela inspiração da emoção.




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