terça-feira, 31 de outubro de 2017

TEM GENTE QUE FAZ, ENQUANTO OS OUTROS SÓ FALAM

Eu ia começar este post explicando minha ausência nos últimos tempos. Mas decidi falar sobre minha presença no TEDx USP - INTERAÇÕES, que aconteceu dia 27 de outubro aqui em São Paulo.

Das 10 apresentações pautadas na programação, eu me identifiquei demais com as contribuições de Mathew Shirts, jornalista e brasilianista que, na rádio Band News, comanda o programa São Paulo para Paulistanos. Shirts falou sobre seu trabalho como editor na revista National Geographics publicada aqui no Brasil. E explicou como ser uma voz solitária falando sobre impactos das mudanças climáticas. Curioso, porque eu achava que essa coisa de "voz solitária" era uma espécie de exclusividade para quem trabalha com Previdência Complementar. Afinal, diferentemente, os ambientalistas são organizados, militantes, pelo Green Peace e outras instituições têm visibilidade, não é mesmo? Só que não! 

As evidências sobre os incêndios de florestas e reservas ambientais na Chapada dos Veadeiros e em Portugal apontam para ação criminosa. Os Estados Unidos, o Brasil e outros países rompem protocolos, praticam tudo o que sabem que vai destruir mas nutre a ganância e o poder. 

Ontem, no Jornal Nacional, a matéria Concentração de gás carbônico na atmosfera atinge o maior nível em 800 mil anos (clique aqui) me chamou a atenção. Porque a economia global e a sociedade (eu, inclusive) - indiferentes aos apelos e evidências dos cientistas e ambientalistas - não mudam o comportamento, ainda que haja risco para todas as espécies do planeta. 

Porque estou escrevendo isso? Porque nos últimos dias outubro as manchetes sobre Previdência na imprensa são:



Frente a esse tsunami verborrágico sem noção, eu me perguntei: vale mesmo vender essa sandice? Depois, eu senti uma nostalgia da época do jornalismo comentado, analítico e investigativo, o jornalismo consequente era mainstream neste país.

Graças a Deus, uma "voz solitária" e corajosa se manifestou com responsabilidade: o procurador do TCU Júlio Marcelo de Oliveira publicou CPI da Previdência vende uma ilusão ao afirmar que não há déficit.

"Por incrível que pareça, o gasto social do Brasil em percentual do PIB (24,5%) é superior ao do Canadá (21,3%) e do Reino Unido (24,0%) e próximo ao da Alemanha (27,3%). Ocorre que mais da metade desse gasto (12,4%) é feito com previdência e assistência social. Gastamos apenas 6% com educação pública e 4,8% com saúde pública, 0,5% com Bolsa-Família e 0,8% com Seguro Desemprego e Abono Salarial.
Os números são eloquentes, assim como o é nosso atraso econômico e social. Ao negar a necessidade de reforma da previdência, o que a CPI da Previdência nos diz é que está bom gastarmos cada vez mais com aposentadorias em vez de aumentarmos os gastos com saúde e educação. Um verdadeiro tiro no pé".

Aprender a falar

A quem interessa a redução da verba para a Educação, para o desenvolvimento da pesquisa acadêmica? A quem interessa que os cientistas brasileiros abandonem o país em busca de financiamento para suas pesquisas? Quem paga pela aquisição de soluções e inovações desenvolvidas pelos cientistas brasileiros empregados no exterior?

As perguntas são incômodas e não são minhas. Trata-se de uma paráfrase de um trecho da palestra que mais me destruiu no TEDx USP. Ela foi apresentada por Natália Pasternark - bióloga, fundadora do Café na Bancada, blogue de divulgação científica, e diretora no Brasil do Pint of Science, festival internacional de divulgação científica.

Ela cobrou muito essa coisa que a gente chama de protagonismo. Protagonismo daquele já minguado percentual da população que alcançava a formação universitária. E eu fiquei com vergonha, naquela hora. E pensei: "é falar sozinho!". Será? O Conversação está com 125 mil visualizações. Quando eu comecei, tive dúvidas se vingava. Mas tentei e insisti. E sei que já fiz mais... Este ano reduzi, porque não estava muito segura sobre minhas ideias diante de tanto ruído.

Só que sei de profissionais que estão fazendo um trabalho lindo para que as PESSOAS - independentemente dos políticos, dos ruídos da imprensa, da contrainformação - tenham um futuro melhor de verdade. Para que as PESSOAS sejam autônomas, independentes dos governos que, inevitavelmente, passarão e serão passado arcaico. A todos esses profissionais comprometidos com um futuro de qualidade eu rendo minhas homenagens aqui, hoje. Com eles, eu não falo sozinha.





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