segunda-feira, 7 de maio de 2012

DIÁLOGO É MATERIALIZAÇÃO DA ESPONTANEIDADE
"O indivíduo A, com todo seu repertório, encontra o indivíduo B. Pois bem: o diálogo não é A + B em hipótese alguma. Não é nem mesmo uma combinação de A com B ou uma intersecção de A com B. É outra coisa. Quem dialoga se pega falando coisas que não tinha programado falar, mas teve de falar, por causa da intervenção do mundo". (Clóvis de Barros Filho in Um jeito novo de conversar, matéria publicada na revista TAM nas Nuvens - abril/2012)


Essa reflexão do professor da USP me motiva a pensar como, nas mais diferentes situações, mas principalmente nas institucionais, somos induzidos a fazer com que o diálogo ainda tenha pouca espontaneidade. Porque o diálogo institucional deve ser pautado, na melhor das hipóteses, pelo consenso. E esse processo, muitas vezes, tem que ser operacional, funcional, preciso, efetivo. Dá pouco espaço para as pessoas serem criativas, sensíveis, intuitivas.


Mas, atenção! As coisas podem mudar! No Google já é diferente. Ah! Mas você trabalha no mercado financeiro, ou com gestão de benefícios previdenciários, faz muito cálculo atuarial, contábil, não tem como voar nessas ideias malucas próprias dos comunicadores e educadores, não é?..... Não! Olha como o professor Clóvis de Barros Filho explica lindamente essa história:


"O diálogo é o momento original em que você, diante do mundo, percebe que tem de ouvir para poder falar. Ele também permite notar a pluralidade de pontos de vista e perspectivas no mundo. Diálogo é perceber o outro. [...]
Pode não haver canal nenhum de comunicação mas, se houver uma disposição da empresa para conversar, essa disposição tem que ser capilar, estar presente em todos aqueles que se manifestam em nome dela. Deve haver política corporativa de diálogo. É fundamental que o discurso do cliente produza efeito concreto de transformação das práticas corporativas".
Novidade no horizonte
Política corporativa de comunicação, tudo bem! Eu trabalho com isso o tempo todo. É mais vertical e autoritária. Diz mais sobre como a instituição "fala com a sociedade e parceiros". Mas política corporativa de diálogo eu ainda não conhecia! Parece mais horizontal, articulada e cheia de interfaces. 


Maravilha, professor! Grande avanço! Agora, algumas questões: nós estamos preparados para falar? Nós sabemos os sentidos e significados daquilo que fazemos para compartilhar de um jeito interessante, colorido, interativo, articulado, honesto - até para falar "não sei" - quando a amplitude do tema escapa ao limite do seu saber? E, antes de ouvir o cliente (a maioria das empresas diz fazer isso), as empresas sabem ouvir os próprios empregados que - na realidade - significa ouvir a si mesma?


Em março, quis assistir ao 12º MIX ABERJE, para ver o trabalho de Laura Jane Lima (FACHESF) sobre comunicação e pesquisa de clima organizacional. Foram só 20 minutos de exposição, uma síntese muito clara sobre o esforço profissional para recolocar em pauta uma ideia antiga: o diálogo com os colegas de trabalho. O Encontro Nacional de Comunicação e Relacionamento, da ABRAPP, neste mês, deve retomar a reflexão sobre o tema. 


Mas eu quero encerrar esse post com um ator importante do processo de comunicação: o formador de opinião. Eu e Marisa Bravi escrevemos sobre ele mais detalhadamente na monografia que produzimos em parceria em 2010, quando a Educação Previdenciária estava despontando no cenário nacional. Para mim, hoje, as Entidades de Previdência Complementar têm que preparar seus quadros funcionais para atuarem como formadores de opinião. E isso passa, necessariamente, por um processo de Educomunicação profundo.


Não se trata apenas de técnicas, mas de formação e articulação de repertório. De estímulo ao diálogo, de aumento de autoestima e promoção de excelência em termos de sentido, significado, consciência, refletidos em forma de clima organizacional. Isso impõe um posicionamento sistêmico da corporação em relação a si mesma e ao mundo. É um jeito diferente de ser, imposto por uma demanda social.


David Harvey, uma referência na área de Sociologia Urbana, diz que as inovações acontecem sempre em resposta a demandas (pressões) sociais. Os jovens entendem muito bem de espontaneidade e conectividade. Os jovens são prioridade das políticas de recursos humanos institucionais, na ocupação dos postos de trabalho. Portanto, necessaria e certamente serão eles os responsáveis pela multiplicação das políticas corporativas de diálogo, que já estão sendo materializadas por aí. Futuro tão exato, quanto os cálculos de matemática elementar.


Argumento para este post: Ivan Sant'Ana Ernandes (PUC/MG; Atest Consultoria Atuarial)
A monografia "Comunicação e Educação Previdenciária -
a importância dos valores para a construção de novos paradigmas sociais"

pode ser acessada na seção Biblioteca - deste blog.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo belo texto, Eliane. Temos que manter e ampliar o diálogo nosso de cada dia. Inclusive nas corporações. Sucesso! Ivan

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    1. Meu amigo! Obrigada pelo apoio, pelas lições, pelos argumentos de texto e reflexões que temos desenvolvido desde que nos conhecemos!Uma honra enorme! Abraço grande! Sucesso sempre! Eliane

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