quarta-feira, 23 de maio de 2012

LIBERDADE É ARTE PARA QUALQUER PARTE

"Este samba, vai para Dorival Caimmy, João Gilberto e Caetano Veloso!". Com esta dedicatória Gilberto Gil, poeta precioso, inicia a canção Aquele abraço, na qual também homenageia, com muito bom-humor e toda merecida dimensão, a um grande comunicador brasileiro: Chacrinha! Sem contar a justa louvação às belezas do Rio de Janeiro.
Eu adoro texto e informação! Por isso, o que o Gil escreve é, para mim, um universo num grão de areia. Ele sintetiza muita ideia junta e ainda por cima compõe com muita inspiração e criatividade!


Então, este post vai para Rosana Rocha, da Sentire, que esta semana, pelo Facebook, mandou o recado: "Viajar sem sair do lugar, é o tema de seu outro post... mas essas viagens são sempre muito enriquecedoras... Beijão!!!"


Bom, a história é a seguinte. Ela começa nos livros. Era uma vez EU, que sempre tive uma relação louca com os livros que li, porque eu fazia exatamente o que o Rubem Alves, como escritor, quer de seus leitores: canibalização! Quando eu leio, realizo um ritual antropofágico! Claro que essa definição continua sendo do Rubem Alves, maravilhoso, que explica a origem do termo, usado por outro iluminado, Oswald de Andrade, no Manifesto Antropofágico, lançado na Semana de Arte Moderna, em 1922. No Google tem muita informação sobre isso.


Então, a minha relação com a informação é assim. Eu canibalizo mesmo! E ontem eu fiz a farra do boi! Coloquei o repertório que eu tinha para trabalhar o dia inteiro, entrevistando pessoas para a TV ABRAPP, durante o 3º Seminário A sustentabilidade e o papel dos Fundos de Pensão no Brasil, promovido pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP), no Rio de Janeiro.  Só que, no exercício do diálogo, você usa exatamente aquele processo que o professor Clóvis Barros Filho (ECA/USP) explicou: 
"Quem dialoga se pega falando coisas que não tinha programado falar, mas teve de falar, por causa da intervenção do mundo". [...] O diálogo é o momento original em que você, diante do mundo, percebe que tem de ouvir para poder falar. Ele também permite notar a pluralidade de pontos de vista e perspectivas no mundo. Diálogo é perceber o outro", (Clóvis de Barros Filho in Um jeito novo de conversar, matéria publicada na revista TAM nas Nuvens - abril/2012)
No livro, você dialoga com o autor. A diferença é que você tem um tempo para acompanhar o voo das borboletas que estão na cabeça de quem escreve. No diálogo ao vivo, você precisa ter outro tipo de prontidão, muita atenção para não perder nenhuma borboleta que está literalmente no hálito de que quem fala. Ouvir a alma da pessoa, como Freud ouvia. Sintetizar a informação, como Gilberto Gil faz. E ainda recombinar tudo isso com seu universo particular, o seu repertório pessoal, para ver as ideias ganharem cores.


É um processo lindo! É químico, porque transforma você ou, como lindamente caracteriza Rubem Alves, é uma experiência milagrosa de transubstanciação! E ainda que não tenhamos essa percepção, essa consciência, ou achemos que isso é pura divagação, é exatamente assim que acontece para todo mundo.  


Ontem, terminei o dia exausta, mas muito, muito, muito feliz. Comunicar - pode não parecer - dá uma espécie de cansaço físico mesmo, só que misturado com euforia. Pelo menos, para mim, é assim que acontece. Então, fico pilhada em alta voltagem durante um tempo e demoro um pouco para voltar para o chão. Essa é a minha viagem favorita mais luxuosa. Acontece quando a minha lucidez está a todo vapor!

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