terça-feira, 17 de julho de 2012

CONSUMO É DIFERENTE DE CIDADANIA


Este post dá continuidade a temas discutidos desde domingo. Trabalho, atitude, educação. O foco hoje é consumo e cidadania. Há algum tempo, Néstor García Canclini escreveu um livro importante - Consumidores e cidadãos - mostrando em linhas gerais como o mundo globalizado incentivava o consumo e que, pela democratização das escolhas, o cidadão seria levado a uma nova forma de participação sociopolítica.


Conhecedor dos mecanismos de exclusão social, Canclini aproxima intencional e provocativamente dois campos interdependentes, porém diferentes. Consumo é ação. Cidadania é atitude. A gênese do consumo é o impulso. A gênese da cidadania é a lucidez.  Consumo não é renovável. Cidadania é sustentável. Por mais que políticas econômicas associem essas duas formas de existir, elas têm naturezas próprias.

Democracia e qualidade

A qualidade da democracia depende do nível de exercício de cidadania por todos. Por isso, Políticas de Recursos Humanos e Políticas de Gestão de Pessoas - pelo grau de influência que desempenha como formador de opinião - deveriam ir além da capacitação técnica e da administração de benefícios oferecidos pela empresa ao trabalhador.

Essas Políticas deveriam assumir também o papel de formador de massa crítica, porque a educação - essa sim - tem um papel muito relevante na promoção da cidadania e do incentivo às boas escolhas. Educação e lucidez são da mesma natureza! E instituições importantes como a Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconhecem que a saúde do trabalhador inclui felicidade, satisfação, sustentabilidade como indicadores de produtividade. A retenção de talentos, para empresas interessadas em continuar competindo no mercado, terá de entender essa realidade, trazida para o mercado de trabalho principalmente pelos jovens.


Por isso, não dá mais para deixar de reconhecer a necessidade de novas soluções para antigos problemas. A emancipação social é um reflexo da globalização dos mercados e da construção da democracia. O professor, salve! salve!, Gil Giardelli (ESPM), analisou parte desse novo mercado de trabalho em um texto incrível: Economia criativa e o admirável mundo justo (para ler, clique aqui).



Não, não é pelo consumo que o cidadão vai definir seu papel no mundo. Mas pelo trabalho! Ah-há! O significado, o sentido da vida - como ensinou Viktor Frankl - tem no trabalho uma de suas origens. Por isso, é preciso que a sociedade reconheça e legitime formas mas prazerosas de produção. Políticas de gestão de pessoas que estiverem sensíveis a esse movimento ganharão em posicionamento e vantagem competitiva. É fato!

Expressão do prazer

E para quem acha que basta o trabalhador feliz para que os níveis de produtividade aumentem, outro alerta: não basta ser, tem que expressar também! E aí entra outro estudo muito bacana muito alinhado com as propostas críticas de Gil Giardelli e Viktor Frankl. Trata-se do ensaio Heurística de la comunicación, de Amando Lópes Valero e Eduardo Encabo Fernández.

Expressar o pensamento que constrói o mundo torna as pessoas felizes! Para isso, é preciso dominar com propriedade a linguagem - como construção social e cultural - e a fala - como construção individual! Pensamentos de boa qualidade exigem boa expressão para conquistarem reconhecimento e, por consequência, valor! As marcas de luxo sabem e agregam esse sentido à suas produções mais transcendentes!


Pessoas felizes que encontram sentido no fazer e formas adequadas de expressão não páram de trabalhar cedo. Os Rolling Stones, Pablo Picasso, Dust Hoffman, Clint Eastwood, Albert Einstein além de trabalharem muito mantêm uma constância na produtividade. O tempo é um fator que soma qualidade e valor aos resultados.


Essa estabilidade funcional dá uma folga para governos e empregadores em relação a políticas trabalhistas e previdenciárias. Há menos corrosão da imagem pública, porque não é necessário aumentar por decreto o tempo de trabalho prestado à sociedade para garantir o direito à aposentadoria. Cidadãos mais centrados, conscientes de seu valor, mais informados, mais autônomos e emancipados são resistentes à inércia.

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