segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ESPELHO, ESPELHO MEU! PESSOAS QUEREM SE RECONHECER NA COMUNICAÇÃO


A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE) publicou hoje o artigo Mas pra que storytellyng?, assinado por  Rodrigo Cogo. O texto mostra a crescente demanda por produção de sentido na comunicação institucional. Ah! E produção de sentido no longo prazo, isto é, permanência na memória e participação na história de vida das PESSOAS.

São conceitos bem mais complexos do que, por exemplo, algumas propostas mais imediatistas, que defendem a construção - por exemplo - de instrumentos de apoio à decisão, desconsiderando os processos de envolvimento, encantamento, educação e relacionamento envolvidos na fidelização do cliente, como propostos por uma linha mais educomunicativa e participativa, que busca decisões conscientes e sustentadas entre as PESSOAS.

Reconhecimento e identidade

Rodrigo Cogo, indiretamente, aponta para uma saturação do modelo institucional de argumentação que, curiosamente, é um desdobramento do modelo acadêmico de estruturação do pensamento. 

"Sem gráficos, sem palavreado erudito, sem percentagens, o storytelling acolhe um novo linguajar em que as sensibilidades são expressadas, e onde os protagonistas são mais verossímeis com os cidadãos do cotidiano, pessoas falíveis como todos os demais, e portanto mais genuínas e mais críveis. As organizações passam a conversar num tom que não existia antes, seja por simples interesse de sobrevivência ou então por clara atribuição de valor à opinião do outro num desenvolvimento integral." (Rodrigo Cogo)
Poucas PESSOAS se reconhecem e se identificam com números. Poucas PESSOAS têm repertório para ler números. Poucas PESSOAS conseguem abstrair dos gráficos e números um sentido permanente para a própria vida. Mesmo assim, eles são recursos presentes em todas as mensagens institucionais. Por quê? 

Essa pergunta eu estruturei na virada do século 20, quando montei meu projeto de pesquisa para o Mestrado em Ciências da Comunicação, que eu ainda cursava na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Foi essa mesma pergunta que eu apresentei aos comunicadores que se dispuseram a participar dessa minha investigação acadêmica e para a qual eu obtive respostas registradas na dissertação Indicadores quantitativos: a tradução dos fatos em números

A resposta que justifica e sintetiza os depoimentos que, na época, eu recolhi, é de Aureliano Biancarelli, jornalista que atuava pela Folha de S. Paulo. Ele apontava para o didatismo de números e infográficos. "O número é matador para comprovar uma tese". Entretanto, Biancarelli também chamava à atenção para o fato de que: "Quando há um número e uma instituição sustentando esse número, o risco de alguém questionar a reportagem é sempre muito menor".

O risco da lei do menor esforço! Menos questionamento, menos entendimento, menos diálogo, menos reconhecimento, menos identidade.

O mundo mudou e a forma de expressão também!

Na época de minha pesquisa, as redes sociais sequer eram embriões. Existiam principalmente e-mails. Por isso, é interessante perceber uma comunicação baseada no monólogo acuada por uma pressão social voltada ao diálogo. As PESSOAS agora querem se reconhecer e se distinguir no processo comunicativo com o qual se envolvem, porque há um investimento de tempo, energia e atenção com um valor incalculável nessa troca mútua.

Vou, portanto, encerrar este post com mais um trecho do texto apaixonado de Rodrigo Cogo que reafirma a vocação para a transformação de corações e mentes e o potencial do texto institucional evoluir da indiferença para a diferença na vida das PESSOAS
"O paradigma narrativo se afasta do tradicional linguajar objetivo, quantitativo, superficial e facilmente esquecível da comunicação organizacional e dá uma abertura para as afetividades e uma linguagem de encontro, compreensão, qualidade e reencantamento das relações, aplicada a estratégias de compartilhamento de organizações geridas em ambientes humanizados. Tudo está a serviço da melhor compreensão das interfaces da Comunicação com ações de responsabilidade histórica e suas narrativas decorrentes, num recurso plenamente adequado a um panorama de reconhecimento da multiplicidade de vozes e do descentramento do sujeito". 

Quem quiser acessar o texto na íntegra, clique aqui.

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