quinta-feira, 15 de novembro de 2012

CONCILIAÇÃO OU CONFLITO DE INTERESSES: MUDA O SENTIDO SE TROCAR A PALAVRA?

Lewis Carroll - que todo mundo conhece por ter escrito Alice no País das Maravilhas - era um matemático que tinha fascínio por lógica. Só que ao invés de se restringir aos números aplicava os princípios dessas construções aparentemente exatas às palavras para revelar a relatividade do que era entendido como medida da verdade, do absoluto. Assim, criticava a sociedade vitoriana e seus protocolos, suas convenções.

Assistir ao II Seminário A Ética como Valor Fundamental, realizado pelo Sindicato Nacional de Previdência Complementar (SINDAPP), fez com que eu me lembrasse dessa capacidade de Lewis Carroll para fazer verdadeiros quebra-cabeças  com as palavras. Em Teoria Literária, as variações da técnica são chamadas de puzzles, doublets e portmanteaux. A "brincadeira" é trocar a palavra e testar o novo sentido do texto.

Gestão Baseada em Risco

Na história de Carroll, Alice teme, mas tem que enfrentar, seu próprio monstro, o Jaguadarte (Jabberwocky) como prova de auto-superação. De maneira similar, quem está envolvido com as rotinas de gestão em Previdência Complementar sabe que um dos pesadelos mais temidos nesse processo são os conflitos de interesses. Esses monstrinhos são responsáveis, entre outros problemas, pelos riscos jurídicos e riscos de imagem da Previdência Complementar junto à sociedade e junto aos potenciais novos patrocinadores de planos previdenciários. Uma das ameaças, portanto, ao fomento do Sistema.

Por esse motivo, foi com alívio que testemunhei figurar muito sutilmente em um dos discursos a expressão conciliação de interesses. É um novo nome para o mesmo problema, mas faz toda a diferença, porque pode reposicionar os personagens em torno da missão de superação, da busca de uma solução positiva para os naturais impasses encontrados durante o relacionamento de longo prazo que se estabelece por meio do plano previdenciário.

A magia das palavras é que elas interferem e têm poder para alterar a realidade. A complexidade da gestão da Previdência Complementar é fato. Por isso, é necessário um posicionamento mais funcional, que possibilite a evolução da técnica de gestão e dê ao gestor uma vantagem estratégica na condução dos impasses, favorecendo a coletividade sempre. 

Escrever este post de hoje foi, para mim, uma satisfação. Por isso, vou encerrar com duas ideias de Leonardo Boff, um dos palestrantes mais inspirados que pude conhecer por meio do II Seminário A ética como valor fundamental. A primeira ideia que eu selecionei diz: "A complexidade atual exige a razão dialógica e a lógica inclusiva da vida". Gosto dela porque parece um jogo de palavras, mas é uma síntese desse posicionamento mais estratégico em cenários em que a experiência do individual deve se submeter à do coletivo. A segunda ideia é, para mim, um enigmático sorriso do Gato de Alice. Leonardo Boff, magistralmente, propõe: 
"Cabe ao ser humano assumir uma atitude ética, discernir os pontos de vista, detectar o tipo de mensagem em seu grau de verdade humanística ou falsidade ideológica, denunciar as pseudo-evidências de sentido. Tais questões remetem a outras mais básicas como: que é o ser humano, a que é chamado, qual é a medida exata para poder continuar a ser humano, co-desenvolver-se, com-viver, integrar-se na totalidade da natureza como parte dela e não como quem passa por ela, sentindo-se exterior e acima dela.
[...] O ser humano precisa do contato direto e imediato com o real complexo, contraditório, obscuro, luminoso e desafiador. Ele precisa ser o que a seta da evolução o destinou a ser: um ser co-criador, co-piloto da natureza, jamais acima dela, mas sempre com ela, pois ele é parte e parcela da Terra, um ser ético que se co-responsabiliza pelo seu mundo". (Leonardo Boff in Civilização Planetária)

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