terça-feira, 15 de janeiro de 2013

QUANDO CHEGA A HORA

Bom, por força das circunstâncias, estou pensando em administração de tempo e aposentadoria. Percebeu, cara pálida, que a crise sobre a qual eu escrevi ontem está relacionada com minha inabilidade para administrar mais tempo livre? E se esse tempo livre vier associado a chuva, que limita o estar ao ambiente interno, então a coisa complica. Começa um tédio e vai para uma crise. Penso como será quando chegar a hora de eu me aposentar.

Em 2013 completo 48 anos. Já posso ir ao posto o INSS e fazer os cálculos para uma aposentadoria oficial antecipada. Pelo menos, foi a atitude que vi de algumas PESSOAS que me antecederam nesse processo. A história do fator redutor parece que motiva a decisão. Mas isso não vem ao caso. Quando eu decidir, certamente vou compartilhar a experiência.

O tempo e o dinheiro

Estou me preparando para fazer um trabalho com aposentados. Então, entrei no banco de imagens do Google. 50% das representações de aposentadoria: praia! Os demais 50% mostram as pessoas fazendo ginástica (cuidando da saúde). Mas as minhas dúvidas vão além disso:

- Quem se aposenta vive melhor?
- Quem se aposenta encontra outros significados no tempo livre?
- Quem se aposenta enfrenta o tédio?
- A aposentadoria é o destino de quem trabalha ou apenas mais uma parte do caminho?

São dúvidas existenciais motivadas pelo imaginário que se cria com base nos principais estereótipos de aposentadoria divulgados no mercado. Mas os aposentados com quem vou trabalhar fizeram Previdência Complementar. Então, tenho algumas perguntas de caráter financeiro e econômico:

- A aposentadoria do INSS seria suficiente? Por quanto tempo?
- Os reajustes da aposentadoria são compatíveis com os índices de inflação?
- Você acha importante ter poupado mais para a aposentadoria ou sua poupança foi suficiente?

O indivíduo e o coletivo

O que me parece mais importante nesta reflexão é saber que um dia, sabe-se lá quando, é possível parar. Para quem detesta trabalhar, para quem vê na aposentadoria uma libertação, para quem, como questiona Leonardo Boff, a profissionalização é: 
"uma fuga de nossa verdadeira identidade, ocupando-nos com uma profissão para a qual ocultamos o nosso medo de perguntar: Qual o sentido radical do meu viver e que enche meus dias, também no inverno da vida até a entrega total ao mistério de Deus?"
Porque, mesmo nas crises, para mim, o trabalho é muito inspirador. Então, parar é praticamente uma alegoria. Por isso, me dou ao luxo do tédio quando tenho tempo em excesso. Não é o caso, mas penso: e se o mesmo anjo safado que visitou Chico Buarque, me encontrasse para anunciar que viverei até os 150 anos? O que faria com o tempo extraordinário de minha jornada? Para mim, a resposta é meio óbvia: trabalharia mais tempo. Mas existem pessoas para quem a aposentadoria pode significar libertação não de uma escolha, mas de uma imposição. 

Vejo os indicadores econômicos nos noticiários da TV. A Economia é - em todos os lugares do mundo - sinônimo de imprevisibilidade. Por isso, precisamos desenvolver o hábito das boas escolhas - como poupar o futuro - e também um pouco de fé. Para que essas escolhas presentes, no futuro, possam nos recompensar, seja com a aposentadoria que esperamos, seja com um equilíbrio para enfrentar os fatos. No ambiente corporativo, CONFIANÇA é o nome dado à fé. Simplifica, porque, como diz Leonardo Boff, "A fé se refere sempre ao Mistério". Além disso, "a fé confere verdade ao ser humano e não segurança". Interpreto essa "verdade" como competência para lidar com os fatos. Afinal, nada é tão perfeito.

Por isso mesmo, quero terminar este post com um trecho maior de Leonardo Boff, ensinando sobre utopia. Penso que a utopia coletiva é ser feliz. Daí a razão de compartilhar esta definição tão lindamente construída pelo professor e publicada no livro Crise - oportunidade de crescimento
"A utopia tem função semelhante às estrelas. Elas estão dependuradas lá no alto do firmamento. Não podemos nunca alcançá-las. Mas elas iluminam a noite. Servem de orientação para quem navega em navios e aviões. Enchem de reverência o espírito humano. Semelhantemente a utopia. Ela é, por definição, inalcançável nos quadros da história presente. Mas ela incita as práticas humanas e impede que a história se congele nos fatos atuais. Ela mantém a esperança aberta para cima e para a frente. Como as estrelas".

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