quarta-feira, 20 de março de 2013

O OLHAR QUE RECRIA O SENTIDO

Manter o conteúdo de um blog é um desafio permanente. Estou experimentando essa construção há onze meses e, posso afirmar: poucas situações consumiram tanto a minha atenção. Porque não se trata da escrita, como atividade isolada, mas uma série de microprocessos, com o propósito de atingir alguma relevância de informação. Afinal, na web, todos são comunicadores! 

Então, para um trabalho de curadoria de conteúdo temático - como este blog e outros trabalhos pretende - é necessário um posicionamento que busca, de imediato, selecionar, articular, reorganizar e ressignificar a informação. Menos ingênuos e mais ambiciosos, os comunicadores precisam proporcionar experiências de valor, por meio do compartilhamento do patrimônio individual imaterial [1] - isto é, as informações - que administram.
Ou seja, a mudança na infraestrutura do conhecimento está alterando sua forma e natureza. Na medida em que o conhecimento ocorre em conexão, a pessoa mais inteligente de uma sala não é aquela sentada à nossa frente, e também não é o conhecimento de todos daquela sala. A pessoa mais inteligente da sala é a própria sala: a rede que agrega pessoas e ideias e as conecta àquelas que estão do lado de fora. Isso não significa que a rede está se tornando um supercérebro. É o conhecimento que está se tornando inextricável – literalmente, algo impensável – à rede. Nossa tarefa é saber como construir salas inteligentes, ou seja, como construir redes que nos tornem mais inteligentes, e se isso for feito de forma inadequada, a rede pode fazer de nós pessoas cada vez mais ignorantes. Conhecimento em rede é menos preciso, porém, mais humano. [2] 
Quando a proposta do conteúdo envolve Previdência Complementar, o desafio é ainda mais complexo, porque essa é uma área do conhecimento ainda pouco explorada no Brasil. Há países, como a Holanda, totalmente aculturados. Mas aqui, a Previdência Complementar passou a ser oficialmente praticada em 1977, em um ambiente político delicado: ditadura, presença do movimento sindical e, claro, a terrível defasagem na educação das PESSOAS.

Informação, evidentemente, nunca significou educação. Mas informação de qualidade facilita e estimula a evolução da educação porque dá base para a consciência sobre comportamentos mais planejados.

Desde que li a informação sobre os resultados da Previdência Complementar Aberta, publicada pelo Jornal Valor Econômico (clique aqui) - maior crescimento registrado em uma década: 31,54% a mais que em 2011 - não consigo deixar de questionar alguns aspectos que a reportagem não aborda:

- o crescimento é reflexo de iniciativas individuais (adultos e jovens) e não das empresas. Então pode-se dizer que as PESSOAS estão mais conscientes sobre a administração orçamentária?

- as técnicas de venda casada dos bancos está mais agressiva?


- as informações sobre Educação Financeira está contribuindo para novos comportamentos (afinal, a Estratégia Nacional de Educação Financeira está em ação desde 2007)?


- 31,54% talvez seja o maior crescimento comparado a qualquer outro setor da economia! Então, como a matéria não aborda esse fato?

- a política econômica de incentivo ao consumo compete até mesmo pelos espaços de reflexão sobre o comportamento de poupança do brasileiro?

Temos resultados, mas não temos interpretação que ajude a entender esses números de uma forma consistente! Os dados (31,54%) são divulgados, mas o que eles significam além do faturamento das instituições financeiras? O que eles apontam? Previdência está se tornando um produto mais conhecido? Previdência está se tornando um produto mais desejável? As PESSOAS estão mais conscientes sobre o tempo de sobrevida a partir da aposentadoria?

Acho que a Educação Financeira e Previdenciária ainda não atingiu a reflexão em um estágio acadêmico mais avançado e ainda está baseada na transferência mecanizada de dados. E, como tão bem ensinou Paulo Freire: "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção"

Por isso não temos respostas. Por isso, a curadoria de conteúdos com essa temática é ainda tão vulnerável e, pior, por isso o risco absurdo da contrainformação, o espaço para a ação muitas vezes criminosa de detratores, o risco jurídico a que se está exposto. A educação pode custar caro. Mas a ignorância custa mais!

Referências do livro Curadoria Digital e o campo da comunicação
[1] OSWALD, Daniela. Anotações para a compreensão da atividade do "Curador de Informação Digital".
[2]  WEINBERG, David. Too big to know. Basic Book. Kindle Edition, 2012. (tradução livre de Elizabeth Saad Corrêa e Daniela Bertocchi, no artigo O algorítmo curador: o papel do comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação)

Se você gostou do recado, compartilhe! Lembre-se seu clique faz a rede crescer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário