terça-feira, 12 de março de 2013

PARA ACABAR COM A SOLIDÃO

Charlie Chaplin - cena de Sunnyside,1919
O que o individualismo fez com você e com todos nós? Garantiu a sensação de liberdade! Mas o próprio individualismo, curiosamente, nunca está sozinho. Ele é amigo da solidão, da tristeza e da ilusão. João Gilberto tem uma bossa muito lindinha que avisa: "Fundamental é mesmo, amor, é impossível ser feliz sozinho".

Mas a sociedade, para ser moderna, terminou dando ao individualismo o mesmo tratamento que dá à cirurgia plástica: apresenta só efeito principal dissociado dos riscos colaterais. Então, a PESSOA busca uma coisa e encontra outrassssss! O profeta Isaías, muito antes do João Gilberto, também ensinou: "Cuidado com aquilo que deseja!".

Estou escrevendo isso porque há algum tempo tenho usado o texto do professor Renato Janine Ribeiro (USP) como base para algumas reflexões. Então, vou destacar um trecho que trata de algumas mudanças sociais históricas que, para mim, terminam mostrando também o impacto na percepção de interdependência das escolhas em uma escala ampliada.
"O comunismo era uma ditadura, não foi nada admirável. Mas, com sua derrota, uma série de agendas sociais e trabalhistas passou para segundo plano  [...]
Acho que, antes de tudo, entra a miopia do capitalismo. Pois embora o capitalismo seja racional em sua busca pelo lucro, é míope e medroso. Evita dar certos saltos - só os deu quando forçado a isso por lutas sociais, trabalhistas, políticas". (Renato Janine Ribeiro in Nossa sorte, nosso norte - para onde vamos?)
A principal perda com a adoção do capitalismo como modelo hegemônico de sociedade está na substituição do coletivo pelo individual. Isso gera inúmeros impactos mas, pela perspectiva da Previdência Complementar, o mais complexo é o comprometimento da noção de coletividade, de mutualismo.

É curioso notar que este conceito - uma vez assimilado e legitimado em atitudes por diferentes atores - poderia evitar diferentes riscos e  muitos custos: jurídicos, administrativos, segurança da informação, governança. Se as PESSOAS tivessem Educação Previdenciária, pagariam menos para ter mais eficiência de gestão.

Não somos nem estamos sozinhos

Escultura do artista e designer australiano Matt McVeigh
que usa carrinhos de compras para criticar
 o consumismo desenfreado de nossa sociedade.
A Revista Fundos de Pensão nº 384, na seção A evolução dos planos, publicou uma matéria - O desenho previdenciário do futuro - sobre Plano de Pensão Reajustável, um novo modelo para mitigar os principais riscos dos modelos Benefício Definido e Contribuição Definida. A opinião - compartilhada por especialistas como John C. Bogle, fundador da gestora de ativos Vanguard, e Keith Ambachtsheer, diretor do Rotman International Centre for Pension Management da Universidade de Toronto - define como "necessário construir um novo paradigma previdenciário que promova melhor distribuição de riquezas entre diferentes gerações".

Mas, para que o modelo seja realmente relevante em resultados, muitas barreiras devem ser vencidas, inclusive a da Educação, da Comunicação e Transparência, para que o Plano Reajustável tenha as melhores condições de operação: "[...] o ideal seria que os participantes se unissem a fim de maximizar a sua poupança de aposentadoria, defendendo coletivamente a significativa parcela do mercado acionário ao invés de competirem entre si por retornos maiores".

Moral da história: somos mais fortes e vamos mais longe quando caminhamos juntos, quando remamos na mesma direção. Sem entender essa fórmula simples, continuamos pagando mais caro e nos expondo a maiores riscos. "A busca incessante por lucros anula quase que por completo a noção de dever fiduciário, o que nos leva a um desfecho já bastante conhecido: a exploração de investidores individuais vulneráveis". A explicação é de David F. Swensen, da Yale University.

Instalação em Lisboa provoca sensação de viagem no
 espaço entre milhares de estrelas.
Inovação é interdependente de educação. Uma experiência nova só funciona quando a sociedade está preparada para interagir com ela. Resultado é interdependente de maturidade e responsabilidade. As construções coletivas são desafio em diferentes áreas: arquitetura e urbanismo, transporte e logística, saneamento básico, limpeza urbana, reciclagem. 

Somadas todas as soluções a uma longevidade cada vez mais expressiva, talvez as futuras gerações tenham naturalizadas todas essas experiências novas e possam testemunhar de fato o que hoje é quase utopia em relação a ideal de plano previdenciário, consciência coletiva e respeito à interdependência.

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