domingo, 30 de junho de 2013

AVENTURA: VAI ENCARAR?

Passei o sábado estruturando um curso que devo apresentar no fim de julho em São Paulo. Também estou trabalhando para organizar o conteúdo de outro curso que, em setembro, levo para Angola para apresentar como módulo de um programa de pós-graduação MBA na Universidade Agostinho Neto. 

Quando eu era criança, já contei aqui, sonhava em ser professora, como todas as meninas naquela época. Professora era o símbolo da autonomia feminina. Depois, quando fui fazer Letras na PUC-SP, sonhava com o Tejo e a imensidão do Atlântico, por causa dos poemas de Fernando Pessoa. "Navegar é preciso. Viver não é preciso". Aí eu passei a trabalhar com Previdência Complementar. Deixei Pessoa de lado e passei acreditar na previsibilidade dos riscos para evitar o imprevisível, o mistério.

"Quando você não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve", é mais ou menos assim que o Gato da Alice explica a equação. Lewis Carroll, o autor de Alice, era matemático que gostava de lógica. Por isso o livro é tão maravilhoso. Fernando Pessoa era alfandegário. Trabalhava com números e regras o tempo todo. Quando penso isso, o sorriso do Gato de Alice aparece e some misteriosamente diante dos imensos e atentos olhos da minha imaginação.


Parece simples essa história de correr riscos, de encarar a aventura. Não é bem assim. Eu procuro evitar, porque sou previdente. Mas eu sempre caio na Toca do Coelho. 

Meu mestrado em Comunicação tratou de indicadores quantitativos. Lógico! Eu tinha deixado Pessoa e Carroll na estante. Só que na semana da defesa da dissertação, uma colega de curso falou lindamente sobre Clarice Lispector e portais de informação (naquela época não tínhamos as redes sociais). Caí na Toca do Coelho de novo! Logo Clarice que ensina que a gente tem que mergulhar no desconhecido. "Viver ultrapassa qualquer entendimento"Fechei minha defesa, parafraseando aquele texto literário, junto dos indicadores que eu tinha me proposto a estudar, recuperando a dimensão humana, imprevisível, impossível, maravilhosa daquela história que eu tinha escrito só o começo.

Quem gostou do resultado? Os professores da banca: Octávio Ianni (ECA), Cristina Costa (ECA) e José Márcio Rego (FGV-SP). Só eles presenciaram a apresentação. Eu estava com muito medo daquela invenção. Não convidei ninguém para assistir. Mas deu certo! Quando eu prestei atenção, tinha caído na Toca do Coelho de novo. Estava na USP de São Carlos, o reduto dos matemáticos, apresentando aquele trabalho que, em 2002, explicava a necessidade de capacitar as PESSOAS para ler números. Lembra alguma coisa para você, cara pálida? Lembra a semente sobre a qual a Educação Previdenciária se estrutura e desenvolve? Capacitação para calcular e planejar melhor a vida?

Uma década depois, parece que tudo já estava escrito nesta história. Mas não por mim! E isso é outra história. Então eu vou encerrar este post com um poema lindo, daqueles que me faziam sonhar com as conquistas grandiosas dos aventureiros argonautas portugueses. O autor, claro: Fernando Pessoa.


O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador deixei 
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala aos ventos
Que, da obra ousa, é minha parte feita:
O por fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quintas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

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