terça-feira, 18 de junho de 2013

E QUE A VOZ DA IGUALDADE SEJA SEMPRE A NOSSA VOZ


Ontem o Brasil deu mais uma prova sobre a fluência, mobilidade e agilidade das mídias sociais. Elas permitem a organização de uma manifestação democrática - sejamos sinceros - incrível!

Difícil de acreditar, porque a onda começa online e termina offline, no presencial, nas ruas. Sim! Existem exageros e vandalismos. Mas esses gestos extremos não começam no povo, mas no descaso, na indiferença, na apropriação ilícita de bens materiais e simbólicos do povo.

É só uma reflexão! Quando falo de bens simbólicos, para mim, o principal deles é a voz. É a aquele trauma da opressão e da ilegitimidade da expressão do pensamento. É a sabotagem da liberdade para perpetuar a desigualdade que permanece acentuada. Mas as redes sociais, por palavras e imagens,  disseminam outros ares, revitalizam sonhos, provocam incômodos. É a diversidade do conhecimento.

Se, no Brasil, a Educação está sucateada. Se, no Brasil, temos na extensão territorial uma dimensão continental que dificulta a mobilização das PESSOAS, também no Brasil temos uma facilidade para o relacionamento e aproximação das PESSOAS. Uma necessidade de fé, crença e confiança, como estratégia de sobrevivência.
São Paulo, 17 de junho de 2013

Novos mapas mentais

Tem dois professores que são minhas referências sobre mídias sociais e engajamento humano.

Clay Shirky, da Universidade de Nova York, no livro A cultura da participação - criatividade e generosidade no mundo conectado.

Gil Giardelli, da ESPM e da ECA/USP, no livro Você é o que você compartilha: e-agora: como aproveitar as oportunidades de vida e trabalho na sociedade em rede.

E tem mais um professor que é minha referência em inspiração para aquilo que considero inevitável: novos mapas mentais de relacionamento humano. Porque não dá para ignorar a energia que esse movimento desencadeia. Então, gosto de interpretar essa percepção pelas ideias do filósofo, teólogo e cidadão planetário Leonardo Boff, no livro Civilização planetária - desafios à sociedade e ao cristianismo.
Rio de Janeiro, 17 de junho de 2013

Gosto de pensar que ontem o Brasil se uniu energeticamente aos movimentos da Primavera Árabe, por mais democracia, e à ocupação das ruas na Europa e nos Estados Unidos, pela revisão da política econômica. Claro, cara pálida, existe a questão política. Mas eu prefiro pensar em energia.

É uma conexão, de fato, defasada - como a própria velocidade de transmissão física de dados no Brasil - mas estamos em rede, pois não? "A geografia ainda importa, mas não é mais o principal determinante da participação", como diz Clay Shirky. "O fluxo de produção e organização amadoras, longe de se estabilizar, continua a crescer, porque a mídia social recompensa nossos desejos intrínsecos tanto de participação, quanto de compartilhamento".
Distrito Federal, 17 de junho de 2013

No fluxo, a igualdade manifesta sua energia latente. Ou como explica Gil Giardelli: "A democracia digital [...] é composta por uma economia para quem tem um sonho a realizar, que abandona a lógica do conflito. Essa economia é formada por pessoas visionárias, capazes de harmonizar os antagonismos de sempre.
Não existe mais o gênio solitário. Hoje vivemos a coisa mais extraordinária desde o advento da Revolução Francesa. Muitos já afirmaram que as grandes invenções são sembre resultado de processos coletivos, a partir da interação e da influência um dos outros".

No diálogo, a manifestação da lucidez

O novo incomoda, o novo assusta, o novo provoca sensações contraditórias, mas o novo tem explicação! Por isso, Leonardo Boff é muito didático em suas reflexões: "Predominaram em nossa cultura a lógica linear e a causalidade unidirecionada. Por isso vigorou a lógica da identidade e do terceiro excluído. A centralidade da nova percepção reside em dar-se conta da complexidade da realidade. Junto ao sabido está sempre o não-sabido; o contrário e antagônico não são negadores do real, mas manifestações de sua pluridimensionalidade; caos e ordem se pertencem mutuamente. O próprio ser humano é simultaneamente sapiens e demens, quer dizer, um ser de intemperança e de demência. Por isso, importa superar os discursos excludentes dos que imaginam, romanticamente, [...] o povo ignorante. [...] Somente uma lógica dialógica e inclusiva, própria dos organismos vivos, faz justiça à complexidade da realidade atual".


Estou usando esse episódio histórico para repensar Comunicação e Educação. Porque as manifestações do dia 17 de junho surpreenderam muita gente que não acreditava que, no país do futebol, da espontaneidade, o próprio esporte pudesse ser símbolo de clareza e crítica popular independente à apropriação tanto de verbas públicas (bem material) quanto do próprio esporte (bem simbólico) como objeto de causa populista de caráter politico-econômico. 

Não temos escolas, não temos educação, os meios de comunicação locais são comprometidos com o poder econômico e político. Mas as redes sociais local e global supriram essa distorção. Por isso, encerro este post com a visão humana e planetária de Leonardo Boff: "São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes".

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2 comentários:

  1. Feliz e coerente como sempre, Eliane. Parabéns! Ivan

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  2. Grande escriba, mais um exclente, oportuno e lúcido texto seu. Parabéns.Nivaldo.

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