sábado, 1 de junho de 2013

QUASE SEM QUERER


Há uns 15 anos, talvez mais, eu tive o privilégio de entrevistar um recém-assistido da Fundação CESP. Francisco Paneque - eletricitário, artista plástico, roqueiro, na época com uns 45 anos. Estava se aposentando em razão de um programa de incentivo institucional.

Ficamos amigos! Ele aproveitou a nova fase da vida para construir uma casa-estúdio no Sul da Bahia. Ficou lá uma década, talvez mais. Falávamos às vezes, porque ele manteve raízes e amizades em São Paulo. Da Bahia, fez e mandou arte para o mundo porque comercializou seus anjos e trabalhos artísticos para turista de muitos lugares do planeta. Mas a família não adaptou ao novo formato da vida e voltou. Ele demorou mais para chegar de novo a Essepê.

Quando chegou, inventou de querer integrar a trupe dos Doutores da Alegria. Eu soube e achei muito ousado! Ele se submeteu ao processo seletivo, mas a idade foi fator de impedimento. Carcamano, marrento, não desistiu. Inventou voluntariado junto à AACD e ao GRAAC. Passou nas duas seleções. Fez curso para aprender truques de mágica, fez curso para aprender a produzir bonecos com objetos diversos (bules, regadores, chaleiras, funis e tudo o que pudesse ser lavável. Exigência da brinquedoteca daqueles hospitais). Fez curso com os Doutores da Alegria para aprender a ser besteirologista.

Duas vezes por mês - normalmente nas manhãs de sol de sábado, como hoje, ou domingo - ele liga para uma conversa/relato que dura em média 40 minutos. E eu fico cada vez mais assombrada com a capacidade de reinvenção permanente dessa criatura que decidiu contribuir para humanizar o relacionamento hospitalar e aliviar a experiência traumática de crianças debilitadas, pais e mães muito fragilizados que - no sorriso - encontram aconchego, acolhimento e conexão com a própria imaginação.

Precisar não precisa, mas não tem preço!

Eu adoro histórias. Todo mundo sabe. Mas esta é muito especial por isso eu quis compartilhar. Aposentadoria poderia ser pantufas e pijama. Poderia ser rede na casa de praia do Guarujá. Poderia ser só as telas, tintas, aerógrafo, grafites que meu amigo tanto curte. Só que não! Aposentadoria, naquele ser, rima com a poesia da generosidade, da prática da gentileza, da solidariedade.

E tem outra lição que eu adoro repassar, sempre que conversamos. A da liberdade de ser quem se é. Meu amigo é das PESSOAS mais autênticas que conheço. Talvez por isso tenha encontrado um viés de Comunicação mais fluido principalmente com as crianças. Admirável como as figuras medievais que ele gosta de desenhar. Zen desapegado como o Tai-Chi que ele gosta de praticar e o Taoísmo que ele gosta de filosofar.

Hoje é sábado e o céu está azul! Só esses dois fatos são por si manifestações de amor. Mas tem muito mais amor transbordando nas histórias, nas PESSOAS, na vida. Quem compartilha, multiplica e faz o mundo mais colorido!

 Se você gostou do recado, compartilhe! Divida e multiplique você também!

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