sábado, 30 de novembro de 2013

TOMIE OHTAKE E SÉRGIO CONTENTE: IDADE PARA RADICALIZAR


A japonesa Tomie Ohtake tem uma história de vida fascinante, talvez até por influência do sobrenome: ohtake significa bambu, o símbolo da resistência e flexibilidade. Na infância, por uma série de circunstâncias complexas e uma fragilidade física muito acentuada, um quadro de pneumonia e 42º de febre, os médicos previram sua morte prematura. Estavam errados! A história de Tomie Ohtake está em um livro infantil lindo. Tomie: cerejeiras na noite, escrito por Ana Miranda e ilustrado por Maria Eugênia, publicado pela Companhia das Letrinhas.

Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, aos 22 anos de idade, Tomie embarcou no navio Argentina Maru, que a traria a São Paulo, onde encontraria espaço para realizar sua maior vocação: pintar.
"Fazia pintura em formas abstratas, que não são a figura de uma pessoa, nem uma paisagem. São cores, manchas, mas umas manchas e cores muito organizadas, com a simplicidade, a imaginação e a pureza de uma criança. Pintava os sentimentos da vida, como se estivesse mostrando que a vida verdadeira não é material, mas espiritual. Por exemplo, quando ganhamos um brinquedo, o importante não é o brinquedo em si. O importante é o prazer de ganhar um brinquedo, a bondade de quem nos deu o brinquedo, o tanto que sonhamos brincando com o brinquedo. Então, Tomie não pinta o brinquedo. Pinta a bondade, o prazer, o sonho. Esse caminho ela resolveu seguir".
30 de novembro de 2013

Sou literalmente vizinha da Galeria Leme e praticamente vizinha do Instituto Tomie Ohtake, dois templos da vanguarda da arte em São Paulo. Quando posso, vou a esses lugares para reeducar meus sentidos: ver, olhar, contemplar, enxergar, refletir. Eles fazem bem ao corpo e à alma. Por isso, ontem, lamentei muito o incêndio no Memorial da América Latina, por todo o significado do lugar para um conceito de cultura interdependente, marcado por diferentes influências, a cara desta cidade austera, mas que abriga desde sempre uma rede interdependente formada por brasileiros de todas as origens - porque o Brasil é um continente inteiro -  portugueses, africanos, espanhóis, italianos, libaneses, alemães, ingleses, chineses, coreanos, bolivianos, e, claro, japoneses! São Paulo reúne a maior colônia fora do Japão.

Mas, hoje, 30 de novembro, pelas redes sociais, a imagem de uma tapeçaria enorme de Tomie Ohtake, destruída com parte do Memorial da América Latina, me chamou a atenção. Por algum motivo eu - que acompanhei o noticiário ontem sobre o incêndio - quis ler a legenda e descobri mais uma lição delicada e cheia de força - como um bambu - da artista:
Ricardo Ohtake contou à sua mãe, Tomie (que acabou de completar 100 anos), que a tapeçaria no Memorial da América Latina foi destruída pelo incêndio hoje à tarde. Tomie, prontamente respondeu ao filho: "Então tenho que começar a trabalhar". Ela está disposta, com 100 anos e em plena atividade, a reconstituir a obra, que foi encomendada por Oscar Niemeyer em 1989. [...] Tomie tem o desenho guardado em seus arquivos, o que vai facilitar a reconstituição. A tapeçaria mede 70 metros de comprimento por 10 metros de altura.
Essa radicalidade só é para quem tem história. Quem dobrou o ego, como se molda um bambu, ao fluxo da vida. Quem, por causa da Guerra, teve que experimentar a destruição. Mas - porque cria - acredita e contribui com a reconstrução. O espírito não tem idade. E a vida é uma inspiração! Então, eu sou muito grata hoje ao post de  Jo Takahashi, compartilhado por Marina Alonso. Eu adoro a minha rede. E adoro o exemplo de Tomie Ohtake: forever alive, forever young, generosidade radical!

Joia rara

São Paulo é austera, mas tem suas joias. É só garimpar. Eu uso a rede. Mas, claro que não se trata de qualquer rede. A minha rede tem muito valor. Por isso, eu encontro as histórias mais fantásticas e aprendo muito com elas. Ontem, na fan page da SUPORTE Consultoria e Treinamento, estava divulgada uma nota (clique aqui) sobre a Fundação Sérgio Contente. Quem é ele? O que faz a Fundação? Eu também não sabia! 

É um tecnólogo que, por circunstâncias adversas, decidiu fundar lan houses para a terceira idade. Nesses espaços dos bairros da Zona Leste da cidade - Tatuapé, Mooca e Penha - as aulas de inclusão digital são muito disputadas, assim como as oficinas, principalmente as de Movie Maker, Photoshop, Facebook e Skype, o que mostra uma evidência indiscutível de mudança no formato da linguagem dos "velhinhos" cada vez mais radicais. Viva a vida e suas reinvenções!

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