sábado, 4 de janeiro de 2014

VIDA E MORTE: DO LINEAR AO MULTIDIMENSIONAL

Imagem de fogos de artifício em longa exposição (para ver mais clique aqui).

2014 chegou na minha vida de uma forma muito paradoxal: com uma experiência de morte em família enquanto eu abastecia minhas ideias com conceitos de educação, emancipação e transformação.

Já escrevi aqui, mas vou relembrar, eu preciso de um tempo para processar e interpretar as informações de um jeito que eu mesma entenda. Isso quer dizer linearmente. Porque foi assim que eu aprendi: em casa, na escola, no trabalho, no mundo. Mas estou cada vez mais convicta de que tudo isso vai mudar. E logo!

Por que comecei este post com uma informação sobre morte? Porque estes dias me mostraram que a morte não é um fato isolado da vida. Morte e vida são realidades integradas, como as engrenagens da escultura cinética 3D, apresentada no vídeo do post de ontem. E eu não consigo parar de ouvir aquela frase do professor Gil Giardelli (ESPM/ECA-USP): "Precisamos de novos mapas mentais". Ele se referia às redes sociais, claro, em razão de um recorte metodológico adequado ao objeto de análise teórica em questão... mas eu sinto que é muito mais do que isso!

O pensamento linear é próprio para uma leitura simplificada da realidade. O que eu preciso agora é de um pensamento 3D porque quero a complexidade da realidade. Cuidado com os seus desejos, já alertava o Profeta Isaías! E - neste caso - eu também sinto que esta necessidade vem acompanhada de muito mais consciência, portanto responsabilidade, pelas próprias escolhas, pelo próprio posicionamento. Acho que Albert Einstein pensava em 3D por isso ele, além de Físico, foi um humanista formidável. Não se trata de uma experiência hightech ou metafísica. É algo que sempre esteve lado a lado comigo, como a vida está lado a lado com a morte, mas até então eu só tinha aceitado, sem sentir o fato de uma forma mais próxima e objetiva.

A Educação por Viviane Mosé

Estou lendo A escola e os desafios contemporâneos, de Viviane Mosé. Um trabalho fantástico, por meio do qual ela resgata a história desse formato de pensamento linear, ditado, passivo, reativo, baseado na opressão e no medo. Ao entrevistar os grandes operadores da Educação no Brasil e em Portugal, Viviane vai reconstruindo essa experiência  de transformação perpétua que há em tudo que existe, no conhecimento, no pensamento. Ela pode! Ela é psicóloga e psicanalista, mestre e doutora em filosofia. Professora e comunicadora. Educomunicadora.

Então o livro é um mosaico de engrenagens interdependentes, similares à escultura cinética 3D! Cada depoimento além de revelador, elucida aspectos dos demais depoimentos registrados por Viviane, organizadora da obra. Lindo! Quer um exemplo?
Moacir Gadotti: "Porque o desenvolvimento do mundo, o desenvolvimento global se baseia em inovação, a inovação se baseia no conhecimento e a escola pode ser esse lugar de produção do conhecimento. (...) acho que as escolas são do tamanho do planeta. A escola não é um espaço físico, não é um prédio, é um conjunto de relações sociais e humanas".
Tião Rocha: "Um diretor de uma fundação, na época, recebeu aquele papel e me telefonou: 'Tião, recebi um projeto aqui, mas ele é muito estranho, porque não tem objetivos, tem não objetivos. Como é que vou financiar um projeto com não objetivos? Você vai ter não financiamento'. Respondi: 'E o senhor vai ter não resultados'. Então, ele propôs o seguinte: 'Pratique isso, porque é uma ideia muito maluca, daqui a seis meses você me fale se conseguiu algum resultado'. Foram seis meses de desaprender, de tentativa de não reproduzir a lógica que a gente questionava [INOVAÇÃO]. 
(...) Essa experiência que começou ali no sertão de Minas, em Curvelo, começou a se multiplicar, a se espalhar por várias regiões. Regiões que primeiro eram áreas de encrenca, somos movidos a encrenca, boas encrencas, tivemos o desafio por exemplo, de trabalhar lá no Espírito Santo (...) de lá fomos para o Sul da Bahia, em Porto Seguro, fomos para o Maranhão, para o Jari, na Amazônia, formos para Moçambique, na África e fomos trabalhar em áreas como Santo André, em São Paulo, e o Vale do São Francisco, na trilha do Guimarães Rosa, e depois no Vale do Jequitinhonha".  
São entrevistas fascinantes, linearmente separadas mas, em um filme, elas poderiam travar um diálogo multidimensional porque toda a experiência de escritura e leitura poderia ser reeditada por temas: a Educação, a evolução histórica da Educação no Brasil, a Comunicação, os processos de troca simbólica, os processos de afetividade, a sustentabilidade, a cidadania, as experiências transformadoras de mundo.


Em relação à Comunicação, eu particularmente, fiquei muito comovida quando li Viviane Mosé escrever: 
"Por isso é bom que na escola se adquira o gosto pela política, não por meio de aulas expositivas, mas vivendo em um ambiente democrático, aprendendo a ser intolerante com as injustiças e exercendo sempre o direito à palavra".
 Para mim, essa reflexão dialoga com Tião Rocha que explica isso de uma forma especialmente bela:
"Paulo Freire para nós foi inspiração absoluta. Brinco muito, digo que ele é o contrário do Evangelho segundo São João, "do verbo se fez homem". Digo que, no caso de Paulo Freire, o homem se fez verbo, ou seja, ele deixou de ser pessoa para ser, para nós, ação. (...) Paulofreirar é toda essa dimensão da vida, da cultura, da ética, da solidariedade como matéria-prima fundamental da aprendizagem, de qualquer aprendizagem".
Para mim, só aprendendo a ler a morte - real e simbólica -  presente no agora da vida, que se faz a transformação, a inovação, a superação, a evolução do pensamento e do jeito humano de ser. 

Curtiu? Então, compartilhe! Lembre-se: seu clique faz a rede crescer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário