terça-feira, 26 de maio de 2015

MUDAR A LINGUAGEM: SÓ PARA OS OBSTINADOS!


Como muitos brasileiros, eu assisto ao Jornal Nacional. O Jornal Nacional pauta a sociedade brasileira. Isso todo mundo sabe, mas é sempre bom reafirmar. E eu ouvi recentemente esse recado em uma palestra muito bacana sobre crise de imagem. 

Mas hoje eu quero refletir aqui sobre o propósito que o JN adotou de mudar a linguagem em 2015. Quem leu Jornal Nacional - Modo de Fazer, escrito por Willian Bonner sabe a complexidade envolvida no planejamento e na produção de cada edição que vai ao ar. Sabe também que a linguagem é a cereja do bolo.

"Ser entendido por todos os espectadores", na página 216 explica objetivamente essa obstinação. Mas recomendo que a analogia alegórica e metafórica que inicia o capítulo Os desafios do texto, que está na página 213 também seja lida. Depois, é claro, as recomendações parecem óbvias, mas nem todo mundo pratica. Construa frases com início, meio e fim. Em ordem direta para uma compreensão natural do espectador. Traduza palavras técnicas do economês, politiquês (aqui, por conta e risco, eu acrescento atuariês, juridiquês). E por aí vai!

A resistência de propósito frente à resistência à recepção

William (Lindo) Bonner não é só apresentador. Ele é o dono da padaria. Por isso ele deu no livro a receita do bolo. Fácil de fazer? Nunca! A edição do livro que eu tenho é de 2009. Na época, as redes sociais ainda não pautavam a linguagem da sociedade. Mas isso mudou.

E o Jornal Nacional precisou mudar para acompanhar as tendências e comportamentos da sociedade. Ninguém disse que seria fácil. Ninguém disse que não haveria escorregões. Ninguém disse que não haveria questionamentos do público.

Desde movimentos singelos como o uso do pau de selfie nos bastidores, para registrar flashes da produção das matérias até a sofisticada infraestrutura tecnológica que cria uma sensação de transmissão multidimensional. O estúdio com os apresentadores no Rio de Janeiro se funde com ambientes em outras localidades onde o JN opera: São Paulo, Nova York.

Até aí tudo muito hightech. Mas e a linguagem? Há poucos dias, Willian Bonner foi massacrado pelas redes sociais por um comentário pessoal sobre a aparência de um hacker suspeito sobre quebra de protocolos de segurança em avião (clique aqui). Bonner se desculpou no ar, na primeira oportunidade que teve, ainda naquela mesma noite.

Ontem foi a vez de José Roberto Burnier repetir um comentário das redes sociais, durante uma entrevista exclusiva de Luciano Huck e Angélica para o JN: "Agora é só segurar um pouquinho nos esportes radicais. E, da próxima vez, pra não deixar de fazer a brincadeira que está todo mundo fazendo, vai de táxi!". A reprovação da comunidade virtual foi imediata.

O que me chama a atenção é que o JN é produzido por profissionais muito, muito experientes, reconhecidos internacionalmente pela qualidade do trabalho que fazem . Mas - no desafio de renovar o formato para manter a liderança do programa - ainda derrapam nos processos de adaptação dos próprios comportamentos, posicionamentos e, até mesmo, compartilhamento do que parece consenso e terreno seguro nas redes sociais.

A cereja do bolo, também na Previdência Complementar 

Quem, como eu, tem estrada em Comunicação e Educação Previdenciária, sabe que a linguagem é um ponto de grande vulnerabilidade no trabalho que fazemos. Os operadores mais jovens já devem ter tido contato - ainda que em forma de lenda urbana - sobre como somos criticados por participantes e assistidos em relação à complexidade da expressão. É verdade. É verdade que usamos muitos termos técnicos. É verdade que dinheiro - por exemplo - tem diferentes nomes, dependendo do ângulo do processo previdenciário em que ele é descrito: contribuição, contribuição extraordinária, contribuição voluntária, reserva matemática, patrimônio previdenciário, benefício de aposentadoria, saldo de benefício. Quer outro exemplo? Cliente. Nos fundos de pensão a palavra representa um risco legal. Então, são usadas as variações técnicas: participante, assistido. E por aí vai.

Quando isso vai mudar? Quando houver consenso, evidentemente. Muitas resistências precisarão ser vencidas. Muita determinação precisará ser monopolizada. Mas veículos de Comunicação longevos são capazes de se adaptar aos novos tempos. É verdade que, às vezes, a gente se abate. Mas sempre tem alguém para nos inspirar a desenvolver a paciência e a obstinação. Hoje cedo, nas redes sociais, li na coluna de Fábio Betti Salgado, publicada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). 
"Eu digo que fazer Comunicação é uma arte. Comunicar como profissão – escrito assim mesmo, com caixa alta e baixa – é a arte de traduzir um mundo nem sempre coerente em algo que faça sentido. E o lugar onde o sentido se faz não é na cabeça, mas no coração. A grande Arte – escrita assim mesmo, com caixa alta e baixa – é a linguagem do coração, forjada muito mais pelo sentimento do que pela razão. 
(...) E isso só quem é artista mesmo consegue fazer: falar a verdade de uma forma que ajude a criar movimento, acreditando que tudo o que acontece à organização faz parte e poder ser útil a sua evolução, porque, acima de tudo, o artista é aquele que já tem a obra pronta dentro de si frente à tela branca, é aquele que crê para ver. A Comunicação também é isso, a Arte da esperança de que o mundo é sempre um lugar melhor para se viver quando as pessoas conversam e se entendem".
Curtiu? Então compartilhe. Seu clique faz a rede crescer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário