quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O QUE VOCÊ VAI SER, QUANDO ENVELHECER?


Já faz tempo que eu busco respostas para essa pergunta: o que você vai ser, quando envelhecer? Porque essa pergunta é muito, muito moderna. E não, eu não estou sozinha nesta reflexão. Ontem, o programa TERRADOIS, da TV Cultura, trouxe o tema "Envelhescência" à discussão. Vale à pena investir 40 minutos nesta viagem!

 A velhice é individual! Acho que é por esse motivo que esta foto me comove tanto. No século 21, mais do que finitude, velhice se transformou em possibilidade. Isso é bom e ruim. Velhice é privilégio. Nem todos conquistam essa experiência. E velhice não é democrática! As condições financeiras são determinantes para que a experiência da velhice esteja garantida em nosso currículo de vida.

As estatísticas comprovam o que eu terminei de escrever. O Mapa da Desigualdade, divulgado em outubro, mostra que a diferença de tempo de vida a favor de quem é rico - em São Paulo - chega a quase 25 anos (clique aqui). O idoso é um sobrevivendente! Mas a questão não se limita ao aumento da longevidade. Nem mesmo se refere ao aumento do tempo de serviço, tempo de contribuição à Previdência Social. Trata-se de uma questão econômica. Trata-se de uma questão de oportunidades. Trata-se de maior ou menor exposição à violência. Maior ou menor acesso à infraestrutura, à saúde.


Tempo com dinheiro

Penso que a Reforma da Previdência não é resposta para todos os problemas econômicos e sociais do  Brasil. Penso que a Reforma Tributária não é resposta para todos os problemas econômicos e sociais do  Brasil. Penso que a Lava-Jato não é resposta para todos os problemas políticos e éticos do Brasil.

Mas são iniciativas de caráter mais genérico que, uma vez implantadas, podem ser aprimoradas para chegar a situações específicas - como os privilégios, como a tributação de heranças e grandes patrimônios, como o REFIS, como as transações internacionais do Banco Safra, desde a gestão Paulo Maluf - só para manter a questão aqui em São Paulo. Mas pode se pensar em Samarco e tantos outros crimes que só fazem aumentar essa diferença de tempo de vida entre São Paulo e outras localidades deste país continental.

Há questões de justiça, sim! Mas aprendi que a eficiência financeira e o lastro econômico precedem a justiça. Sem trabalho, não há dinheiro, saúde, educação, habitação, segurança, vida. Penso que nada disso é resposta absoluta, mas há respostas absolutas no século 21? Nem mesmo a morte é mais resposta absoluta!

Aprender a aprender


"O que você quer fazer aos 96 anos"? Para mim, esta pergunta que surge aos 35 minutos do episódio “Envelhecêscia”, de TERRADOIS, é a principal reflexão que o aumento da longevidade desencadeia. A arcaica associação entre ser e fazer. O fazer que justifica o ser.

A automação preconiza o fim deste grande paradigma do século 20. A automação é o fim, primeiro do emprego. Depois, do trabalho. E ainda das contribuições à Previdência Social. Por último, do significado de nós mesmos. 

“Nós precisamos de uma escola de ocupação da nossa longevidade”, explica o psiquiatra Jorge Forbes. E aí é que está o pulo do gato! Quem se habilita a ensinar essa lição? Com soluções, mais do que reclamações? Com transformações, mais do que restrições (além daquelas que naturalmente existem)? 

Hoje, eu não tenho respostas. Só mais ecos para a pergunta: o que você vai ser, quando envelhecer?

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